05/09/2016

Minissérie: Justiça

Título: Justiça
Gênero: Drama
Canal: Rede Globo
Direção: José Luiz Villamarim, Manuela Dias
Elenco: Debora Bloch (Elisa), Jesuíta Barbosa (Vicente), Cássio Gabus Mendes (Heitor), Luis Carlos Vasconcelos (Euclydes), Adriana Esteves (Fátima), Enrique Díaz (Douglas), Leandra Leal (Kellen), Jéssica Ellen (Rose), Luiza Arraes (Débora), Vladimir Brichta (Celso), Igor Angelkorte (Marcelo), Teca Pereira (Zelita), Cauã Reymond (Maurício), Antonio Calloni (Antenor), Drica Moraes (Vânia), Pedro Nercessian (Téo), Priscilla Steinman (Sara), Camila Márdila (Regina), Giovanna Echeveria (Vanessa), Leandro Léo (Dez Porcento), Júlio Andrade (Firmino), Julia Dalavia (Mayara), Tobias Carrieres (Jesus), Fernanda Viana (Lucy), Pedro Wagner (Osvaldo).
Participação Especial: Marina Ruy Barbosa (Isabela), Ângelo Antonio (Valdir), Marjorie Estiano (Beatriz). 
Ano de Estreia: 2016
Duração dos Episódios: 53 minutos
Número de Episódios: 20
Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥ ♥

"Maybe there's a God above
And all I ever learned from love
Was how to shoot at someone who outdrew you
And it's not a cry you can hear at night
it's not somebody who's seen the light
it's a cold and it's a broken Hallelujah Hallelujah, Hallelujah, Hallelujah, Hallelujah..."

Hoje eu venho falar sobre uma minissérie da Globo que está dando o que falar: Justiça. Esqueça sua revolta política contra a emissora, se você for desses. Estou falando de uma minissérie que chamou a atenção do Brasil, tocou num ponto que dói na gente. Justiça tem esse nome não pelo conceito jurídico, não trata de leis e processos, mas sim pelo conceito de justo sob o ponto de vista ético e moral. Faz você pensar no que é certo e no que é errado, no que você, cidadão comum, considera justo ou injusto. Vingança, perdão e arrependimento são os pontos chaves de todas as histórias da minissérie que tem as belezas e as mazelas de Recife como pano de fundo.


Como assim todas as histórias? Sim, são quatro histórias diferentes que tem algumas conexões. A trama segue o formato de narrativa cruzada (ou crossovers), uma boa aposta da emissora. São 20 episódios (já tivemos oito até o momento), quatro por semana - nas quartas-feiras não é exibida a minissérie. Cada dia é dedicado à história de um personagem principal: segunda-feira é dia de Elisa (Debora Bloch) e Vicente (Jesuíta Barbosa), terça-feira dia de Fátima (Adriana Esteves) e Douglas (Enrique Díaz), quinta-feira é dia de Débora e Rose (Luiza Arraes e Jéssica Ellen) e sexta-feira é dia de Maurício (Cauã Reymond). As histórias se cruzaram, até o momento, de maneira sutil. A protagonista de segunda-feira pode ser uma coadjuvante na terça, uma figurante na quinta e ter uma aparição relâmpago na sexta. Eu vou falar um pouco sobre cada uma. Não considero o que vou contar como spoiler, porque a maior parte já passou na TV nas chamadas da minissérie e nos trailers. Prepare-se pois esse post ficou um pouco grande. 


Segunda-feira: Justiça começou com a história de Elisa. Professora na faculdade de Direito, Elisa não consegue superar a morte da filha Isabela (Marina Ruy Barbosa), assassinada a tiros pelo então noivo Vicente há sete anos, que surtou ao flagrar a amada nos braços de um ex-namorado. O relacionamento de Elisa com Heitor (Cássio Gabus Mendes), reitor da universidade onde trabalha, até lhe ajuda a seguir sua vida, mas o desejo de vingança não sai de sua cabeça, e ela persiste com a ideia de fazer justiça com as próprias mãos, principalmente ao descobrir que Vicente ficou sete anos na cadeia, o que para ela foi pouco. Já Vicente, que passou esses sete anos preso, dorme todos os dias com a culpa e o arrependimento do crime que cometeu. Ao cumprir sua pena, ele tem como grande objetivo de vida conseguir o perdão de Elisa. 


A estrutura do capítulo se divide em cortes entre passado e presente, que vai costurando a colcha de retalhos do que vem a seguir. Os outros três protagonistas aparecem nesse primeiro capítulo em momentos diferentes, como eu citei,  sendo coadjuvantes ou figurantes. O destino das quatro histórias se liga no mesmo dia em que vão presos. O interessante é perceber que o foco das prisões convergem várias vezes durante a semana, mas o telespectador as acompanha sempre por pontos de vista diferentes. Um exemplo disso é o atropelamento de Beatriz (Marjorie Estiano), que faz parte da história de Maurício (Cauã Reymond), - que é o foco das sextas-feiras - mas que acontece em todos os capítulos anteriores, a cada vez com sob um olhar distinto. Uma dica para quem ainda vai assistir os capítulos: guarde bem na memória a empregada doméstica de Elisa, o pintor que aparece na sala de Elisa enquanto mãe e filha assistiam televisão e a jornalista que aparece na TV. 


Terça-feira: Fátima é uma mulher pobre, mas trabalhadora que vive muito bem com o marido Waldir (Ângelo Antônio), um motorista de ônibus, e os dois filhos Mayara (Letícia Braga/Julia Dalavia) e Jesus (Bernardo Berruzo/Tobias Carrieres) em um sítio na periferia. Sua vidinha é simples, mas perfeita até a chegada de seus novos vizinhos: o policial machista e truculento Douglas (Enrique Díaz), sua namorada encrenqueira Kellen (Leandra Leal) e o cachorro Furacão. O animal começa a atazanar a família, invadindo o quintal e matando algumas galinhas. Valdir pede várias vezes a Douglas que prenda o animal, mas Kellen, que detesta o cachorro, vive importunando o policial - que faz tudo por ela - para colocá-lo do lado de fora. Até que um dia Furacão morde Jesus, e Fátima, que já estava a mil com a facada que o marido tinha levado numa briga de bar, perde a cabeça e atira no cão. Para se vingar, Douglas - incentivado pela amada - 'planta' cocaína no jardim da vizinha, e ela é presa por sete anos. Nesse momento, tudo desmorona e cada um segue seu caminho, dispersando essa família feliz.


Essa é uma das quatro histórias que mais comoveu o público - e a mim também. Fátima errou ao atirar no cachorro, pois não foi mais em legítima defesa (o animal já estava sob o controle do dono no momento dos tiros). Porém o momento em que isso acontece era uma situação frágil e todos entendemos a raiva dela. E sua prisão foi injusta, já que ela foi presa como traficante de drogas, tudo armação de Douglas, que quis fazer justiça pela morte do seu "amigo" com as próprias mãos. Essa "justiça" acabou desestruturando uma família inteira, levando duas crianças para um destino incerto, sem pai nem mãe. E Douglas acaba por ficar com um sentimento de culpa, principalmente depois que Fátima sai da prisão, tenta reencontrar os filhos e refazer sua vida do zero. Sem falar que Kellen, a mulher por quem ele fez tudo, o largou por outro. Sobre as conexões: adivinha quem era a empregada de Elisa? Observe bem onde o marido de Fátima trabalhava e onde ele estava no momento de um certo acidente de carro.


Quinta-feira: Rose é a filha da empregada da casa de Débora, sua amiga desde sempre, e a distinção de cor ou classe social nunca existiu na relação das duas. Quando eram mais jovens, adoravam uma diversão e, em um luau de comemoração de aniversário de 18 anos de Rose, elas compram drogas num quiosque na praia para serem consumidas por elas e também pelos amigos. O problema é que uma batida policial as surpreende no meio da balada - preste atenção no policial. Apenas Rose é revistada pela polícia - aqui temos o ponto que choca a sociedade (mas que no dia a dia sempre acontece e ninguém liga): Rose faz parte da pessoas negras que foram separadas para a revista, enquanto que os brancos da festinha são liberados... Enquanto ela vai presa, Débora, que é branca, passa impune. Sem coragem de dividir a culpa pelo porte de drogas, ela vai para casa aos prantos, vendo a amiga ser levada para a delegacia. Após sete anos atrás das grades, Rose resolve reencontrar a amiga sem cobrar nada, e descobre que ela se tornou uma mulher fragilizada e estéril após sofrer um estupro. Juntas, elas decidem encontrar o criminoso - que já apareceu antes na minissérie, fique de olho!


Essa história é uma das mais julgadas pelo público. Por que? Veja bem, nós temos Rose portando drogas, que é crime, mas que foi presa acusada de tráfico e só foi revistada porque era negra. Temos o racismo bem escancarado aqui, mas o público se divide, afinal ela realmente cometeu um crime (porte de drogas), mesmo que não tenha sido tráfico. O que sensibiliza as pessoas é o fato de Rose ter passado no vestibular para jornalismo em quarto lugar, e o dia seguinte à sua prisão ser justamente o dia da matrícula. Sua mãe, pobre, negra e empregada doméstica lutou para dar um futuro melhor à filha e vê esse futuro indo por água abaixo, enquanto que com a filha da patroa, que também tinha culpa no cartório, não acontece nada. Nada juridicamente falando... porque ela é brutalmente estuprada algum tempo depois (uma das cenas mais fortes da minissérie depois do assassinato de Isabela, uma cena que dá vontade de pular, de olhar para qualquer coisa menos para aquilo). 


Essa trama pode se enfraquecer caso não seja bem controlada, pois Rose quando sai da cadeia não procura vingança para si própria, mas prefere ajudar a amiga a encontrar o estuprador. Nasce uma dúvida: ela realmente não quer se vingar, ou fingir que não se importa com o que houve no passado faz parte de sua vingança? Essas são as especulações e vamos precisar de paciência para descobrir o que acontecerá nos próximos episódios. Atenção para o ônibus onde Rose e Débora estavam a caminho da festa e para o vendedor do quiosque.


Sexta-feira: Maurício é casado e apaixonado pela talentosa bailarina Beatriz. A felicidade do casal é abalada quando ela é atropelada por Antenor (Antonio Calloni) - sim, aquele carro desgovernado que aparece nos capítulos anteriores, pois é, o motorista dele é importante. Ele é um político corrupto que dá um golpe na empresa de ônibus da qual é sócio e torna-se rico às custas dos outros, inclusive do parceiro de negócios Euclydes (Luiz Carlos Vasconcelos), pai de Vicente. Após o acidente, Beatriz fica tetraplégica e implora que seu marido pratique eutanásia nela. Depois que mata a amada, Maurício vai preso durante sete anos. Quando sai da cadeia, começa a colocar em prática seu plano de vingança contra Antenor, que fugiu sem prestar socorro após o atropelamento. Sobre as conexões, além de Maurício trabalhar para o pai de Vicente (aquele que matou a noiva na segunda-feira), quem era o motorista de ônibus que ajuda no socorro de Beatriz? - mais acima eu falei para você prestar atenção. Outro personagem muito importante é Celso (Vladimir Brichta), é ele que vende a droga para a eutanásia de Beatriz a Maurício. Celso vira parceiro de negócios de Maurício e o ajuda na vingança contra Antenor. Sem falar que Celso está conectado a todas as histórias. Essas conexões dele com os outros três protagonistas você vai ter que descobrir assistindo.


Inocência e culpa vão se contradizendo a medida em que as histórias avançam. O drama da minissérie não nos poupa de altas doses de sofrimento, que são perfeitamente entregues por interpretações emocionantes e uma trilha sonora bem tocante, a começar pela versão de "Hallelujah", já velha conhecida do público e que é cantada por Rufus Wainwright, que deixa tudo ainda mais sensível. Se você é manteiga derretida como eu, prepare os lencinhos. Se você é um insensível sem coração, duvido que não vá no mínimo se comover com as histórias. A iniciativa da minissérie é, sem dúvida, uma das grandes viradas da Globo no caminho da elaboração de dramaturgias mais complexas e com menos do mesmo. E tudo isso foi só sobre os primeiros capítulos, ainda temos mais duas semanas de minissérie, tudo pode acontecer e mais justiças (ou injustiças) vão surgir. Minha dúvida é: em algum momento esses crossovers vão se interligar ainda mais? Espero que sim, mas vamos assistir para descobrir (sou daquelas que fica apontando quando fulano do capítulo anterior aparece no seguinte rs). Me ganhou e não vou perder nenhum capítulo pois, justiça seja feita, estávamos precisando de boas histórias na TV aberta há muito tempo.


Trailer:



5 comentários:

  1. VI anunciar essa série nas chamadas da Globo,mas não imaginava que era uma obra tão inteligente e interessante.
    Não sei se vou entender muito,já que perdi uma boa parte da trama. Mas mesmo assim vou conferir.

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    1. Janaina, você pode tentar assistir os episodios anteriores pela Globo Play!
      Beijos!

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  2. Olá, Mariana.
    Desde que começou a anunciar a série fiquei bem curiosa pra assistir, por causa da história dos personagens da Marjorie e do Cauã. A série acabou estreando e até hoje não vi nenhum episódio. Vou aproveitar o tempo livre que tenho em casa e tentar assistir pela internet pra depois acompanhar pela Globo.
    Gostei do fato da "Justiça" abordada no enredo ser mais para o senso do ser humano do que o justo ou não, em vez de uma abordagem pro lado político ou voltado para as nossas leis.

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  3. Olha pode tacar pedra em mim, mas faz pelo menos uns cinco anos que não assisto nada dessa emissora. e não é por apelo político nem nada não, mas simplesmente achei coisas mais interessantes e estou buscando ficar mais off line das telinhas e divertir mais com outras coisas (livros e minha filha), mas ouço muita gente falando muito bem dessa minissérie, eu não assisti nada mas vou ver se pego o ritmo e me inteiro das tramas!

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  4. Parabéns pela resenha. Não tenho o costume de assistir series brasileiras mas depois do que li abrirei essa sessao

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