24/02/2016

Livro: O Vilarejo

Título: O Vilarejo
Autor: Raphael Montes
Editora: Suma de Letras
Ano de Publicação: 2015
Número de Páginas: 96
Minha Avaliação: ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ 

"- Perceba, Anatole, que nunca inseri o pecado ou o mal nas pessoas. O mal já estava lá. Eu apenas o potencializei."

Essa capa, esse título e sua sinopse me atraíram como abelhas ao mel. Se tornou um caso de primeira necessidade adquirir esse livro. Quando chegou em minhas mãos, não resisti e li assim que pude. Devorei todas as 96 páginas em menos de uma hora. O único arrependimento foi não ler de noite, combinava muito mais. Que livro fascinante! Vou te contar o porquê para você ficar com vontade de ler também.

Sinopse: "Em 1589, o padre e demonologista Peter Binsfeld fez a ligação de cada um dos pecados capitais a um demônio, supostamente responsável por invocar o mal nas pessoas. É a partir daí que Raphael Montes cria sete histórias situadas em um vilarejo isolado, apresentando a lenta degradação dos moradores do lugar, e pouco a pouco o próprio vilarejo vai sendo dizimado, maculado pela neve e pela fome. As histórias podem ser lidas em qualquer ordem, sem prejuízo de sua compreensão, mas se relacionam de maneira complexa, de modo que ao término da leitura as narrativas convergem para uma única e surpreendente conclusão."

A obra tem um certo quê de "baseado em fatos reais", que já conta como atrativo. Segundo Raphael Montes, o livro seria a tradução de textos contidos em cadernos escritos a mão por uma senhora já falecida chamada Elfrida Pimminstoffer, que ele teria adquirido num sebo de seu amigo Maurício. A idosa havia escrito o texto numa língua estrangeira. Seu amigo então resolvera contatar a família da senhora, e entrar em contato sua bisneta Ana. Ana não queria os cadernos de volta e até ameaçou queimá-los caso Maurício insistisse. Raphael então resolveu ficar com os cadernos e tentar traduzi-los. Com o tempo ele descobre que a língua utilizada foi o cimério, uma língua já morta, pertencente a uma linha antiga do ramo botno-úgrico, e que lhe daria trabalho. Raphael não desiste e finalmente traduz os sete contos narrados nos cadernos. É aí que ele percebe porquê Ana não queria mais contato com aqueles cadernos. Ele então teria decidido publicar a tradução.


O livro de Montes narra 7 contos aparentemente isolados e que podem ser lidos em qualquer ordem. No final, todos se relacionam e a conclusão é ainda mais surpreendente que o conteúdo dos contos. O 7 contos estão ligados aos sete pecados capitais e seus respectivos demônios, segundo a classificação do demonologista Peter Binsfeld: Asmodeus (luxúria), Belzebu (gula), Mammon (ganância), Belphegot (preguiça), Satan (ira), Leviathan (inveja) e Lúcifer (soberba). Todos os contos narram histórias de moradores de um vilarejo que foi varrido do mapa após as consequências devastadoras de uma guerra civil, do frio e da fome. E também por conta dos sentimentos mais sombrios que habitam o interior dos seres humanos e que vem à tona em tempos de crise.

"O caráter do homem é o seu demônio" - Heraclito

Eu optei por ler na ordem sequencial publicada por Raphael. Nunca li nada dele, mas O Vilarejo despertou meu interesse em ler outras obras do escritor brasileiro. Ao terminar o livro, percebi que a moral da história era que as aparências enganam e muito. Imagine um vizinho, um amigo, um parente, que você pensa que conhece, que aparenta ser uma boa pessoa. E nos momentos de necessidade se transforma em outra pessoa. Ou que passou a vida toda fingindo ser aquilo que não era. Às vezes jamais perceberemos que aquela pessoa tinha problemas ou cometia atos inimagináveis. Às vezes, achamos que tudo na vida daquela pessoa são flores, quando na verdade muitos espinhos se escondem por baixo das belas pétalas. Às vezes, aquela pessoa pode ser nós mesmos. É justamente esse engano das aparências que Raphael Montes quer transmitir a cada conto. Alguns como "A Verdadeira História de Ivan, o Ferreiro" e "A Doce Jekaterina" são tão impactantes que conseguem despertar não só horror como ódio por aquelas pessoas, no leitor.

O cuidado dedicado à obra também é um atrativo importante. A qualidade das folhas, os detalhes em sangue nas páginas, aquele ar de livro sombrio... Suma de Letras está de parabéns. Abaixo seguem algumas das ilustrações contidas no livro, que acompanham cada conto. Raphael possui uma escrita clara e fluida que nos faz praticamente saborear O Vilarejo. Eu recomendo com total certeza e já faz parte dos meus favoritos! Boa leitura!

" O velho estava certo. O vilarejo vem sendo dizimado a cada dia. As mortes são frequentes e o luto se sentou à mesa. Ninguém chora os mortos. Não podem desperdiçar energia lamentando a partida dos que não suportaram o frio e a fome."

Ilustrações:










2 comentários:

  1. Oi, O Vilarejo esta na minha meta de leitura desse ano, não sabia que os contos foram traduzidos. Adorei a sua resenha e ela me deixou mais ansiosa ainda pra ler a obra.


    http://mysecretworldbells.blogspot.com.br/

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    1. Oi Brenda que bom! Leia mesmo, ele é ótimo! Essa parte de traduzir os contos e serem baseado em fatos reais é na verdade ficção mesmo rsrs Mas que dá uns calafrios pensar que poderia ser real, dá. Foi isso que mais gostei no livro!

      Boa leitura! Beijos

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